domingo, 29 de julho de 2007

Colombo e Isabel

1.
ISABEL, A CATÓLICA

Vives, Isabel,
ao pronunciarem teu nome,
em Castela, por que lutaste,
o reino que amaste mais
que a ti mesma.

Vives, Isabel,
a luta por glórias
desperdiçadas,
mortes em tuas mãos
de rainha, Granada,
Toledo, Aviz.

Vives, Isabel,
porque és a flor de lis
desses paços,
desses planos e desses arcos,
cavalos a desfilar em tua honra.

Vives, Isabel,
porque és anterior
e pura – a vida sagrada a ti,
a quem se curvam os homens
e a História.

30/07/2002 – 4h25

2.
CANTO DE ISABEL

Aos teus olhos,
só o sonho é possível –
a buscar a terra,
onde só há o mar.

Cortar a pele dos oceanos,
riscando os mapas,
até avistar telhados de ouro,
que dizes estarem a Oeste.

Te farei Vice-Rei de todas as Terras Descobertas
e Almirante do Mar Oceano.
Te dou o que me pedes
para me levares
além.

Em tua cruzada pelo mar,
levas a Boa Nova.
Teu sonho te guia,
entre rotas e correntes marinhas.

O tempo pacientou-se de teus pedidos.
Deus irá conduzir-te.
A mim coube dar-te abrigo.

Esperaste tanto para realizar teu sonho!

A Terra, para ti, não finda.
Abençoadas as tuas palavras
que fazem do mundo infinito.

Haverá monstros à tua espera?
Haverá o carrasco dos mares?
Deus, em sua misericórdia,
te afastará de tais males.

O mar te conheceu menino.
E, menino, navegaste a toda parte.
Se o mar te assombra e te chama,
segue-o.

Eu, Isabel, que sou terrena,
cavalgo como se navegasse.
Empunho as rédeas como empunhas o leme.

Navego contigo aonde jamais irei.
Levas meu nome aonde nunca viverei.

Assim é a eternidade de quem passa.
Eu, que vislumbro em teus olhos os oceanos,
concedo a ti meu legado.
Se algum dia Espanha foi ao mar,
por tua mão se tornará grande.

31/07/2002 – 14h06-18h39



3.
O OUTRO MUNDO

Que ventos embalam minha alma?
Que céus cruzam os pássaros,
que luzes resplandecem de verdores
jamais vistos?

Ilhas, milhas além,
sentinelas, visões do Paraíso,
o Portador de Cristo,
emblema da Cristandade,
circunavegação dos Santos.

Gira a Palavra pelo Hemisfério,
centrifugada por naus e caravelas,
de Palos até as Bahamas.
Não deixamos rastro
por onde navegamos.

Avistamos terra onde nada havia.
Dias e dias se passaram,
com milhas contadas a menos,
para que a distância
não parecesse imensa.

Meu Rei, minha Rainha,
é este o propósito do meu caminho.
Onde Cipango, onde Catai?
As cidades da China nos aguardam.

Em Gênova, onde nasci,
Marco Polo escreveu sua história.
Seu livro tenho comigo para me dizer
onde vou.

Pelo Leste seguiu ele, pelo Oeste
sigo eu.
Um por terra,
outro por mar,
que a Terra em sua esfera,
liga todos os caminhos
ao mesmo lugar.

1/08/2002 – 4h12

4.
IMENSO OCEANO

Minha alma é um imenso oceano.
Navego por ele à noite,
sem luz para me guiar,
sem estrelas que me apontem
o destino,
sem música senão o mar.

Batem as ondas no casco
da nau que singra adiante,
para onde se põe o sol.

Minha alma me chama.
À beira das águas vivem outras terras,
vertem outros risos e outros prantos.

O olhar sempre no horizonte, para onde
vão os mercadores, guerreiros
e viajantes.

É minha a terra que lavro,
é meu o mar que não domino,
mas que me acolhe como a um filho.

Se vivi para vir aqui e ver o que vi,
Deus está comigo.

6/08/2002 – 13h54